Muitos jornalistas brasileiros exaltam o futebol argentino com aguerrido, técnico, raçudo e também exaltam seus torcedores como apaixonados que cantam até o fim, mas não é bem assim. Na Argentina as torcidas organizadas são chamadas de "Barras" e são verdadeiras máquinas de guerra por OBRIGAR os dirigentes a oferecer ingressos, ônibus e até passagens aéreas de graça as torcidas. Confiram a notícia da torcida do Indepiendente da Argentina que é o time mais vitorioso da Libertadores da América com sete títulos em sete finais.
Na Argentina, a guerra de torcidas não difere mais as cores dos inimigos. De fato, as ameaças e batalhas agora miram aqueles que deveriam estar ao mesmo lado.
No começo deste mês, integrantes da barra (como são chamadas as torcidas organizadas do país vizinho) do Independiente invadiram a sede do clube. Eles exigiam a saída de um dirigente, o gerente Raffaele Rutigliano, sob argumento de que ele estava "ganhando muito dinheiro."
O alvo principal do violento protesto, porém, era outro.
Na invasão, Javier Cantero, 54, presidente eleito em dezembro, deixou sua sala e se encontrou com os torcedores.
Um deles, segundo relatos da imprensa argentina, tentou agredir o cartola foi impedido pelos colegas.As reivindicações foram ouvidas: os barras queriam de volta a cota de ingressos que recebiam desde sempre, além de ônibus para transportá-los, outra regalia que era paga pelo clube.
A polícia foi chamada, intermediou a retirada dos torcedores, mas não fez qualquer detenção pelo episódio.Nada indica que os pedidos sejam atendidos. Até por isso, nada indica que atos como esse não se repetirão.
Quase como um Dom Quixote, Cantero tenta romper, sozinho, com uma relação viciosa entre os violentos das arquibancadas e os clubes.
Opositor, foi eleito no fim de 2011 com quase 60% de apoio, rompeu com a barra e retirou deles todas as facilidades que tiveram por anos.
Na Argentina, as torcidas organizadas buscam financiamento pelo medo.Na década de 1990, a Justiça fechou a Fundação Jugador Número 12, criada pela La 12, a barra do Boca Juniors.
A acusação era de que a instituição era usada para lavar o dinheiro arrecadado com a revenda de ingressos cedidos pelo clube, além da extorsão de comerciantes que atuavam no estádio La Bombonera, tudo com a conivência de diretores --a fundação arrecadou cerca US$ 3,5 milhões com essas atividades.
Os anos passaram, mas os meios foram mantidos.
Em busca de reconquistar poder, os barras do Independiente fazem terror. Há 20 dias, uma ameaça de bomba obrigou a retirada de 1.400 alunos de um colégio que funciona nas dependências do clube, em Avellaneda, ato atribuído aos torcedores.
"Não vamos retroceder", disse Cantero, depois respaldado por cerca de 800 sócios que se reuniram na sede da equipe em seu apoio.
Mais recentemente, o vice do clube, Claudio Keblaitis, renunciou ao receber cartas anônimas. "Minhas filhas me pediram chorando", contou o dirigente, depois convencido a pedir apenas um afastamento de 30 dias. "O dinheiro ou um tiro na cabeça", dizia a correspondência.
"Tenho medo, não sou louco", admite Cantero. Ele sabe que, sozinho, pode não conseguir enfrentar a violência das barras.
"Precisamos do governo, da AFA (Associação de Futebol da Argentina). Só demos o primeiro passo."
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